sábado, 28 de fevereiro de 2009

CRISE DE 29: APRENDEMOS A LIÇÃO?

As recentes medidas do pacote do governo norte-americano para solucionar a crise desencadeada pelo mercado de hipotecas de alto risco que ameaça contagiar todo o sistema econômico e financeiro mundial tem despertado muitos questionamentos. Mas, o que se desconhece é que ele nada tem de novo, sendo apenas a mesma fórmula aplicada após a crise da Bolsa de N. Y. em 1929 e agravamento da recessão mundial na década de 30.

Os fatores de conjuntura no final da década de 20 apontam como sinalizador inicial da crise a supervalorização do mercado imobiliário norte americano impulsionado pela alta de preços dos imóveis na Califórnia culminando com o craque da bolsa em outubro de 29. As reações em cadeia redundaram todas na redução da despesa nacional (consumo, investimento, gastos governamentais). As falências bancárias comprometeram o crédito e a confiança no sistema. Foi estimulado o entesouramento e paralisado o investimento. 

A queda dos preços das commodities reduziu o poder aquisitivo de produtores e vendedores e os compradores foram induzidos às expectativas de maiores baixas. Houve um retardamento da atividade produtiva, uma significante redução dos investimentos a nível global, não correndo formação de estoques na indústria, nem compensação da taxa de depreciação. O investimento líquido tornou-se negativo. Foi acionado o multiplicador negativo nas economias internas. 

Dos fatores estruturais, o principal é a redução do fluxo das exportações de capitais norte- americanos, mais especificamente, aqueles direcionados aos financiamentos das exportações dos países em desenvolvimento ou produtores de matérias primas. Estes reduzem suas exportações por falta de financiamento e aqueles reduzem por sua vez a compra de matérias primas dos países em desenvolvimento. Em ação, o multiplicador negativo das economias externas. 

O paradoxo entre trocas externas e produções nacionais acarreta então uma importante mudança no peso relativo da pauta dos principais produtos das exportações: produtos com alto valor agregado em conteúdo tecnológico substituem matérias primas em mercados, volumes e preços. Surge como conseqüência desta transformação, o desemprego estrutural ao lado do desemprego de conjuntura. 

È interessante observar neste período, que a Grã-Bretanha consegue atenuar os impactos decorrentes da depressão, estimulando o seu comércio exterior pelo mecanismo preferencial de trocas em sua esfera de influência econômica (Commonwealth). 

EUA e Grã Bretanha terão sucesso em suas medidas de intervenção. França e Alemanha, fiéis ao padrão ouro, à deflação e à estabilidade do Cãmbio, não, redundando em crises políticas que culminarão com a II Guerra Mundial. 

O New Deal é o primeiro e o mais importante conjunto de medidas de intervenção governamental no domínio econômico. Buscava estimular os preços, restituir a confiança dos investidores no mercado e aumentar o poder aquisitivo dos consumidores. Entre as medidas mais importantes, podemos citar: Política Monetária: (i) Controle mais rígido do fluxo de saída de capitais. (ii) Emissão de moeda sem lastro (ouro) até US$ 3 bi. (iii) Desvalorização do dólar para estimular as exportações e elevar os preços internos. (iv) Criação de um sistema de seguro dos depósitos bancários. (v) Maior rigor na fiscalização e controle do crédito bancário.

Política Agrícola: (i) Compra e estoque das commodities agrícolas para reduzir a oferta no mercado e sustentar os preços. (ii) Redução da área cultivada. (iii) Fixação de preços mínimos acima das cotações internacionais, subsidiando as exportações agrícolas. 

Política Industrial (as metas foram elevação dos salários, redução das horas de trabalho e alta dos preços): (i) Financiamento de US$ 3.3 bilhões em obras públicas. (ii) Aplicação dos princípios da lei antitrustee. (iii) Organização do cluster com a nacionalização da energia hidrelétrica do vale do Tennessee com a construção de usinas, barragens, irrigação e reflorestamento constituindo assim a espinha dorsal do programa. 

Política Social: (i) US$ 500 milhões para o seguro desemprego. (ii) Criação da PWA – Public Works Administration que vai permitir a recolocação no mercado de construção civil de 3.800.000 desempregados, construção de cerca de 100.000 edifícios públicos, 70.000 pontes e 285 aeroportos entre outras obras de infraestrutura. 

Conclusão – vimos que apesar de muitas semelhanças entre as causas da recessão na década de 30 e da atual de 2008 e das medidas anunciadas serem uma reedição do New Deal de Roosevelt no que se refere à política de criar inflação, o receituário atual deixa a desejar por que não prioriza o principal, a questão da elevação do nível de emprego da economia, que é estrutural e conjuntural e o controle do crédito e dos fluxos de entrada e saída de capitais.