domingo, 1 de março de 2009

Desmistificando o Pinhão Manso

Observações sobre os plantios experimentais do Jatropha Curcas (Pinhão manso), efetuadas nas visitas a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrário (EBDA) e ao EMBRAPA Semi Árido (Pernambuco) entre os dias 15/10 e 19/10 objetivando estudo de viabilidade econômica no desenvolvimento de projeto de cultivo de oleaginosas para a produção de biodiesel nas cooperativas agropecuárias do Sistema OCB-SESCOOP do Estado do Rio de Janeiro. Autores: Francisco de Assis de Souza França e Pedro Paulo Silveira Felicíssimo A visita do dia 15/10 iniciou-se pela estação experimental da EPAMIG no município de Nova Porteirinha, próximo ao município de Janaúba, no norte de Minas Gerais, região que neste período do ano apresentava uma estiagem agravante do clima semi árido típico daquela região. Apesar da ausência da principal pesquisadora do Jatropha Curcas na EPAMIG, Drª Heloisa Mattana Saturnino, fomos bem recebidos pelo Engº Agrônomo José Carlos Fialho Resende, Gerente do Programa de Agroenergia e pelo Engº Agrônomo Nívio Poubel Gonçalves, com especialidade em entomologia e conduzidos a área do experimento pelo técnico agrícola Sr. Renato Faria. O que pudemos observar inicialmente é que a quase totalidade dos conteúdos divulgados pelos meios de comunicação, principalmente a INTERNET, sobre a cultura do Pinhão Manso, constituem-se em meias verdades ou conjecturas inverídicas sem um rigor científico adequado. A total ausência de dados científicos sobre o comportamento da planta em diversos ambientes ou sob condições de clima, solo ou de plantios consorciados específicos, principalmente os que dizem respeito à produtividade, nutrição, adubação orgânica ou inorgânica, controle de pragas e de doenças, são sob o ponto de vista da equipe da EPAMIG o principal argumento e entrave ao endosso desta equipe científica na liberação do plantio comercial do Jatropha Curcas. Apesar disso com vistas ao aprofundamento dos experimentos de observação a EPAMIG solicitou o registro provisório no MAPA do cultivar. Na questão do zoneamento agroecológico, a solicitação deve ser baseada exclusivamente em análises técnicas. Torna-se necessário entre outras questões avaliar o nível de dano econômico e qual a sua interferência na produtividade, (ex. a relação produtividade X espaçamento) para uma análise segura da viabilidade econômica do plantio comercial. O que foi observado na verdade foi a ocorrência de diversas pragas e doenças neste experimento: ácaros (branco e vermelho), cigarrinha, thrips, percevejo, cochonilha, oídio, crisopídia, além do cupim, atacando as raízes e de fungos ainda não analisados. A planta também apresenta um stress hídrico (quando ocorre a hibernação) e de um stress pós colheita, ocorrendo em ambos a queda de toda a folhagem. Apesar de ser resistente ao clima semi árido necessita de um mínimo de irrigação, sendo rejeitado os excessos de umidade e pluviosidade, assim como a existência de alto teor de alumínio na composição do solo. A linha de base atual de pesquisa da EPAMIG está centrada na observação, no estudo e no controle das doenças e pragas da Jatropha Curcas sob diversas condições: plantio em sequeira e irrigação, com e sem adubagem, plantio por sementes, mudas ou estacagem e na análise da produtividade sob estas condições. Com esta finalidade a EPAMIG instalou uma equipe de estagiários para monitoramento no combate as doenças e pragas através da utilização de inseticidas e fungicidas naturais: folha e torta de mamona, fumo c/ álcool, óleo de Nim entre outros. A principal recomendação da equipe da EPAMIG para o projeto experimental da OCB/RJ foi no sentido de instalar unidades de observação com autorização do MAPA nos diversos experimentos no Rio de Janeiro, para observação do comportamento da planta diante dos aspectos técnicos abordados acima. Uma das recomendações também é o não consorciamento com gramíneas como por ex. o milho. No caso de plantio por estacamento (clonagem), pode ser favorável na seleção das melhores espécies, porém, ocorre pouca fixação da planta ao solo pelo não desenvolvimento da raiz pivô. Outros dados coletados: total da área experimental: 10ha total de plantas: 1200 por ha idade do experimento: 1 ½ ano produtividade observada: 600 kg/ha produtividade do óleo: 17% a 35% preço da semente: R$70,00/kg 1 kg: 1600 sementes. Visita a EBDA em Salvador, Bahia, no dia 17/10 fomos recebidos pela Comissão de Estudo para o Biodiesel, formada pelo Engº Agrônomo Edson Alva Souza Oliveira, Engº Agrônomo Vagner Maximiro Leite e Engº Agrônomo Valfredo Vilela Dourado, também Assessor da Presidência, que iniciaram apresentando as principais linhas de pesquisa focadas para o estudo do Pinhão Manso: consórcio, adubação orgânica e química, nutrição e poda relatando os projetos apresentados pela instituição junto ao CNPQ/Petrobrás e a parceria com o Banco do Nordeste para também a implantação de um Banco de Germoplasma (semente e estacagem). A EBDA conta com 18 unidades de observação e 6 experimentos, com foco na agricultura familiar (em toda a Bahia existem 650.000 agricultores familiares e a EBDA tem aplicado cerca de R$ 210 milhões/anonestes projetos), abordando não só o plantio do pinhão manso, mas também os de girassol e mamona, como alternativas na produção de biodiesel. As áreas selecionadas apresentam grande diversidade de solos e ambientes. No caso do experimento visitado, o do município de Alagoinhas, como em todos os outros, trata-se de um experimento em sequeiro (sem irrigação) e com utilização de adubo natural: torta de mamona, esterco de boi, resíduo de sisal, água de lavagem de mandioca. Em experimentos em alguns ambientes o plantio foi de forma consorciada com milho, girassol e amendoim. Em Irecê, onde 94% são pequenos produtores, ocorre um plantio de 60.000ha de mamona. A Petrobrás pretende instalar na região uma Usina de Biodiesel. Atualmente paga R$ 0,80/kg e uma esmagadora de grãos (tipo prensa modular) com capacidade que pode chegar a 60 ton/dia, foi adquirida com verba do MDA. Em Irecê o início da produção do Pinhão Manso ocorreu em 10 meses com uma produtividade atípica de 612 kg/ha (o ciclo inicia em 10 meses, mas há relatos de colheitas até em 2 e 3 meses). A produção obedece geralmente a uma escala geométrica anual como por ex. 120 kg no 1º ano, 240 kg no 2º ano, 360 kg no 3º ano, etc.. No oeste da Bahia, a produção de algodão branco também é uma das boas opções para o biodiesel. Também no experimento da Jatropha Curcas na Bahia foram observadas diversas doenças e pragas como ocorridas no norte de Minas Gerais, além da formiga cortadeira que ataca a planta no início e da Arapuá (abelha) que ataca o tronco em busca da seiva. Os procedimentos de combate também são similares: uso do Nim, folha de mamona e de fumo em uma infusão de 48 horas. Algumas recomendações da EBDA para o projeto da OCB/RJ: a planta não pode exceder 3 metros de altura por questões de colheita. O espaçamento em Alagoinhas é o 3X2, mas o recomendado para o consorciamento é 6X2 ou 6X3. As mudas em saquinhos devem ser de 15X15X30 devido a profundidade de penetração das raízes. Não é recomendável o plantio do Pinhão Manso na utilização como recomposição de mata ciliar, pois a planta apresenta crescimento limitado em solo de perfil baixo, lençol freático alto e solo compactado. É recomendado o seu plantio na recomposição da mata em contenção de encostas e em áreas de difícil mecanização. Consorciamento de pinhão com pastagem (gado de leite) e com girassol. As mudas devem ser desenvolvidas sob o sol, a céu aberto, evitando a cobertura de estufa. Linha de base do solo para plantio em área experimental de consorciamento (espaçamento 6X8): Após análise do solo, 60 kg/ha de N, elevar K para 0,6/0,7, elevar P para 15 mg. Visita no dia 19/10 ao experimento da EMBRAPA semi árido em Petrolina, Pernambuco, sendo recebidos pelo Bolsista do CNPQ, Márcio Ranieri, que relatou que os experimentos iniciados há um ano pela instituição, destinam-se exclusivamente a obtenção de sementes e o programa de produção de biodiesel, atender a demanda na geração de energia para as termoelétricas. O plantio ocorre em solo pedregoso com 1(uma) irrigação/semana por gotejamento (20 litros de gotejo) podendo no caso de maior estiagem chegar a 2(duas) vezes/semana. Ataques de percevejo (combatidos com politrin) e de trhips foram observados no experimento. Observação importante sobre a colheita, é que ela dá-se de forma periódica (uma vez por semana) devido a que os botões florais não abrirem todos ao mesmo tempo. O vento atrofia o crescimento da planta e a poda efetuada (2 metros) no tronco principal permite o surgimento de novos galhos, sendo boa a sua execução do ponto de vista da produtividade. Observada a existência da abelha Arapuá (que produz mel de vários sabores), mas sem a ocorrência de ataques aos caules das plantas como na Bahia. Estudo sobre o uso das folhas secas da Jatropha Curcas como feno na alimentação animal, apresentou resultados extremamente satisfatórios do ponto de vista nutricional (14,5% proteínas) e de digestibilidade (acima de 50%). Visita a Fazenda Gabriela – experimento particular com irrigação por gotejamento - cuja atividade principal é a vinicultura irrigada, apresentou resultados surpreendentes do ponto de vista da robustez das plantas, da abundância das copas e da colheita (6 meses). A predominância de abelhas melíferas mostrou-se como um fator essencial para a eflorescência e abundância dos cachos, sendo ideal a colocação de uma caixa por hectare. 3 ½ meses ocorre afloração, tendo a colheita regularidade. O ácaro paralisa o desenvolvimento (eflorescência). Foi observado consórcio com milho e feijão com resultados bem satisfatórios. O custo de irrigação informado foi de R$ 3.000,00 a R$ 4.000,00 por hectare. O ideal é acolocação a cad a120 dias de 15o gramas de NPK por pé. Análise do solo para verificar a causa de amarelamento das folhas, verificou uma alta concentração de NPK e Mg em comparação com os padrões de demais cultivos. Uma planta invasora foi observada: a juremimha e a mosca branca, praga em um cajueiro, atacou as plantas próximas. As principais recomendações foram: incentivo à polinização e a poda objetivando o aumento da produtividade. Conclusão: as atividades recomendadas para os experimentos no RJ pela observação destes 3(três) experimentos foram: 1 – Instalação de Unidades de Observação 2 – Análises de solo e estudos comparativos com as análises de solos dos experimentos da EPAMIG, EBDA e EMBRAPA Semi árido. 3 – Intercâmbio de sementes dos experimentos. 4 – Plantio por estacamento (clonagem) no RJ. 5 – Consorciamento com girassol, feijão, milho, mamona e gergelim. 6 – Intercâmbio de informações entre OCB/RJ, EPAMIG. EBDA e EMBRAPA Semi árido. 7 – Incentivo à apicultura nos experimentos. 8 – Busca de apoio financeiro privado a elaboração de estudos da EBDA sobre nutrição, adubação orgânica e química, poda e consorciamento do Jatropha Curcas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua opinião é muito importante para aperfeiçoarmos as postagens