sábado, 28 de março de 2009

Sistema Financeiro, Crise e Âncora Cambial

CRISE DE 2008: ASPECTOS MACROECONOMICOS, MICROECONOMICOS E DE COMÉRCIO INTERNACIONAL. Recentemente em debate, a crise financeira internacional trouxe ao cenário a questão de convivência de um equilíbrio macroeconômico apoiado nas políticas de metas de inflação preconizadas primeiramente pelos países da UE e “a posteriori” pelos países em desenvolvimento, em especial a América Latina e o Brasil. (este equilíbrio é amparado via uma estabilidade do balanço de pagamentos consolidado com uma política fiscal austera e da prática de um nível de juros compatível a um crescimento industrial moderado – neste caso da política de juros a exceção era o Brasil até a pouco tempo) e um equilíbrio microeconômico com controle da inflação e expansão do crédito direto ao consumidor. Para os que não atuam especificamente na área econômica, este artigo faz-se necessário para compreensão dos impactos diretos e indiretos da crise internacional sob a égide destas políticas vigentes, sobre o nível do comércio internacional e, conseqüentemente sobre as economias dos países em geral. Em 1º lugar sobre a Balança Comercial, dada a impossibilidade de atingir de acordo com a teoria, o equilíbrio exportações = importações, precisamos definir que a simples convergência das duas funções, demonstraria a existência de uma economia equilibrada e em processo de crescimento com sustentabilidade. Definida e em acordo com esta questão, passamos a definir o desequilíbrio sobe os dois aspectos: (i) exportações > importações que é em geral o comportamento das políticas comerciais e da balança comercial dos países em desenvolvimento. O superávit pode ser definido de forma generalizada para os países em desenvolvimento como uma compensação de déficits existentes nos balanços de pagamentos e/ou de serviços e/ou conta correntes e/ou público ou mesmo por questões de vulnerabilidade ou estratégia relacionadas a reservas de seus Bancos Centrais. É o caso do Brasil, Venezuela, Argentina, citando apenas alguns. (ii) Importações > exportações é um caso atípico a ocorrência de uma prática comercial voltada a gerar uma balança deficitária. A única razão “sine qua non” para que uma economia sobreviva nesta condição é que ela seja a exportadora de capitais. Nisto se enquadra a economia dos EUA com as suas especificidades: o dólar como moeda comercial e seu centro industrial e financeiro como sede das grandes empresas multinacionais. Para entendermos melhor esta questão, vamos supor a economia dos EUA superavitária, que destino teria: 1 – A enorme quantidade de dólares voltando para o mercado interno dos EUA. A resposta é inflação de preços. 2 – O consumo e a produção de bens e serviços para o mercado interno entrariam em colapso, visto a produção para exportação estar nas mãos dos grandes conglomerados financeiros industriais. São as médias e pequenas empresas importadoras que aquecem e suprem a enorme demanda do mercado interno e dos consumidores ávidos por novidades. É o “american way life”, acostumado às novas tecnologias provenientes dos Tigres Asiáticos e dos Gansos Voadores. Outra parte desta demanda em importações é suprida pelas filiais das próprias grandes indústrias transnacionais norte-americanas, espalhadas pelos países em desenvolvimento, próximas da matéria prima e dos baixos custos em mão de obra e que assim ganham milhões de dólares fornecendo para si mesmas e driblando as armadilhas do mercado. Em 2º lugar passamos a definir o mercado internacional, que vamos dividir em duas partes, ditas “operacionais”: (i) Mercados de Derivativos, Futuro ou de Commodities – operações extremamente influenciadas pelas variáveis expectativas e incertezas dos agentes econômicos e por isso definidas como “operações de risco calculado”. Entre as commodities podemos citar as principais e mais vulneráveis às expectativas e incertezas e que afetariam diretamente o mercado brasileiro: petróleo, aço, cimento e soja. Entre os derivativos os que mais afetariam o mercado de forma global: o dólar e o euro. Vamos nos concentrar na dinâmica destes últimos e do preço do petróleo funcionando como âncora cambial dos dois. (ii) Mercado Financeiro - Quando ainda prevalecia o padrão ouro como âncora referencial para o mercado, o funcionamento resumia-se em duas reuniões diárias dos cinco maiores players do metal (em Londres e Zurich), quando então, avaliavam-se as operações diárias de compra e venda do ouro e estabelecia-se uma cotação necessária ao equilíbrio entre oferta e demanda. (um excesso de oferta ou venda ocasionava a redução do preço e um excesso de demanda ou compra a elevação do mesmo). Imediatamente após este anúncio, as operações eram desencadeadas em um efeito “linkage” a partir de um ajuste em uma cesta de moedas (as principais eram o dólar, o marco e o yen) a partir da cotação do franco suíço na Bolsa de Zurich. As análises mensais das variações de preços do ouro ajudavam então o FED (Banco Central dos EUA) entre outros BC’s, a decidir sobre a taxa de juros a ser praticada. Este era, grosso modo, o mecanismo de equilíbrio da economia internacional. Com a extinção definitiva do padrão ouro no início da década de 70, extinguiu-se um importante mecanismo de ancoragem e equilíbrio da economia internacional. A comprovação deste fato foram ocorrências das crises do petróleo de 73 e 79 e o referencial do mercado ficou restrito apenas ao câmbio daquelas três moedas principais. Na entrada em vigor da zona do Euro, a moeda unificada trouxe à dinâmica da economia internacional uma simplificação que diria Keynes, se vivo fosse, até certo ponto permissiva e perigosa para os mecanismos de livre mercado. O dólar e o euro passam a travar um duelo particular pelo papel de principal moeda comercial. Neste cenário atual, os preços internacionais do petróleo parecem de certa forma despercebida pelo mercado, a funcionar como ancoragem da economia internacional com um mecanismo similar ao descrito para o padrão ouro nas décadas de 50 e 60, ou seja, a oferta e a demanda do óleo ajustam o equilíbrio da economia. Dentro da lógica desta análise, parecem sensatas as medidas de política econômica adotadas pelos EUA de aumento do déficit em conta corrente, desde que direcionados para a geração de empregos e renda através da implantação de obras de infra-estrutura em uma reedição do Programa New Deal de Roosevelt e em P&D de novas fontes de energia renováveis, como prega Thomas Friedman em seu novo livro, “Hot, Flat and Crowded”, um dos favoritos do Presidente Barack Obama, onde cita firmemente que a crise não ocorreria se expressivos investimentos no setor em novas fontes de energia renováveis tivessem sido efetuados pelos países desenvolvidos. Entretanto, parece um enorme contra senso a injeção de milhares de dólares no sistema financeiro, que padece não de uma crise conjuntural, mas sim estrutural em que a ausência de uma âncora e referencial para as economias globais, acaba por amplificar os efeitos das expectativas e incertezas do mercado. Para finalizar é interessante notar que estas incertezas e expectativas do mercado que desencadearam a crise, são derivadas justamente das oscilações brutas dos preços daquela commoditie, o petróleo, que deveria servir como foi proposto pelo artigo, de âncora e referencial de equilíbrio e ajuste para a economia monetária, em especial para as taxas de juros e para o câmbio. Autor: Pedro Paulo S. Felicíssimo

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